segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Projeto “Olhares Lapidados”

Quiero encerrarme en mi círculo y no tratar de alcanzar más allá de lo que me permite la mirada. Destrozar esta maldita “universalidad” que me sujeta peor que la cárcel más estrecha y salir hacia la libertad de lo limitado.

Witold Gombrowicz
Diário Argentino

O projeto surge quando começo a ser convidada para dar cursos de documentário em festivais de cinema e vídeo e em universidades. Ao mesmo tempo que buscava resumir o vasto mundo da produção documental em meus cursos, começo a investigar um espaço bastante fértil da produção de contemporânea de documentários autorreferenciais. Neste espaço a experiência pessoal do documentarista é transformada em um discurso audiovisual no qual os grandes temas da subjetividade contemporânea são colocados em cena. A partir de meus estudos no Mestrado em Documentário Cinematográfico, na Universidad del Cine (Argentina), começo a investigar criação de discursos subjetivos no cinema e nos meios audiovisuais desde suas origens, já nos primeiros registros dos irmãos Lumi`ere, criadores do cinematógrafo.
A partir de uma linha histórica, formal e tecnológica definida, construí uma lista de filmes e vídeos em que a dissolução de fronteiras entre gêneros e o hibridismo formal é múltipla. Além disso, são obras em que a utilização de tecnologías portáteis (de câmeras 8mm e 16mm ao formato digital Mini DV atualmente) é fundamental para a criação de uma poética da cotidiano, de um assumido olhar subjetivo sobre a realidade. Uma forma de arte!
Com as obras escolhidas e com um estudo sobre a forma narrativa e o estilo das mesmas como base, o projeto “Lapidando o Olhar” propõe, primeiramente, a educação do olhar a través da análise de filmes e vídeos em que a utilização das tecnologias portáteis é uma das principais características.
A partir destas análises, toda a riqueza estética e de conteúdo de obras audiovisuais com discursos autorreferenciais é utilizada como uma fonte de educação do olhar tanto para o consumo de produtos mediáticos quanto para um entendimento mais aprofundado da própria realidade.
Nesta forma de utilizar os meios audiovisuais, a portabilidade e acessibilidade das novas tecnologias audiovisuais cria territórios para uma arte mais subjetiva e engajada.
O projeto, portanto, não têm somente intenção prática, mas constitui-se em um estudo voltado para a construção de olhares lapidados não só para os componentes da estética audiovisual mas também em relação `as próprias realidades, uma necessidade latente nos dias de hoje, quando a contaminação do olhar pela lógica do consumo banaliza as potencialidades da linguagem e da arte.
Atualmente, o projeto está sendo desenvolvido a través de curso para alunos do Ensino Médio na Escola Nossa Senhora de Fátima, da qual recebi convite para ministrar um curso de cinema.
O projeto segue em 2010 estarei ministrando outros cursos e organizando a Mostra Olhares Lapidados - 1a. Mostra Internacional de Vídeo Juvenil, com alguns projetos e instituições convidados como Echo Park Film Center (Los Angeles - EUA), Festival Hacelo Corto (Buenos Aires – AR) e o Centro de Mídia Juvenil (São Paulo), e a ONG Ação Educativa (São Paulo).

Os cursos – proposta

O objetivo do projeto é promover cursos em que a realização de obras audiovisuais com aparatos caseiros e portáteis incentiva os alunos a pensarem temas de sua cotidianidade e de sua realidade. Com câmeras Mini DV, VHS-C, câmeras de fotografia digital que têm recursos de gravação de imagens, entre outros formatos, os alunos são incentivados a elaborar projetos e executar pequenas peças audiovisuais cuja premissa deve partir de uma imersão em suas próprias realidades.
Formalmente, os vídeos são delimitados a uma duração entre dez e quinze minutos e são prioritariamente documentais (imersivos), experimentais (híbridos) e autorreferenciais, partindo de idéias de uma realização audiovisual subjetiva, fugindo dos parâmetros formais do cinema clássica e das classificações de gênero.
O tema escolhido serve para levar os alunos a uma reflexão sobre as temáticas desenvolvidas na escola ou instituição onde acontece o curso. Os vídeos podem problematizar, a partir da experiência pessoal dos alunos, temas universais como direitos humanos, violência, relações humanas, valores humanos e respeito `as diferenças e cultura contemporânea.

O curso pode ser ministrado em instituições de ensino e em projetos sociais, bem como em festivais e universidades:

Mais informações e contato:
Carolina Berger
carolinadiasberger@hotmail.com
olhareslapidados@gmail.com

Olhares Lapidados 2009 - Colégio Nossa Senhora de Fátima

Curso de cinema e vídeo para alunos de escola apresenta resultados


Nesta sexta-feira, dia 20, as 8:30 da manhã, os alunos do Colégio Nossa Senhora de Fátima e interessados poderão conferir os 3 vídeos produzidos no curso “Educando o olhar”, ministrado pela cineasta Carolina Berger, para alunos do Ensino Médio da escola.
No primeiro semestre de 2009, alunos do ensino médio tiveram aulas de “cinema pessoal” e “cinema experimental”, de roteiro e direção para cinema e vídeo e conheceram uma grande quantidade de obras, muitas delas inéditas em Santa Maria. As obras exibidas no curso fazem parte de uma tendência de realização de obras audiovisuais com tecnologias portáteis, como formatos caseiros de vídeo.
O curso já está na sua segunda edição e este ano foi produzido um vídeo a mais que no ano passado, por iniciativa dos alunos que correram atrás para produzir suas idéias. Além disso, os alunos estão cada vez mais criativos e o método de ensino do curso vem sendo aprimorado. Uma das principais características do curso é a busca de uma linguagem subjetiva , o que é aplicado a partir de um estudo que a coordenadora do curso realiza há 5 anos e que é parte de sua dissertação de mestrado.
Entre os resultados, os alunos conseguiram ultrapassar as fronteiras entre documentário e ficção e produziram obras com uma linguagem híbrida e autêntica. Os próprios alunos são responsáveis pelo roteiro, direção e até mesmo atuam nos vídeos. E aprenderam a usar ferramentas de produção mais acessíveis, como câmeras digitais caseiras (Mini DV).

Vídeos produzidos em 2009

Vídeos produzidos em 2009
12:07, de João Pedro Seefeld

12:07 (curta-metragem, ficção, 11 min, Mini DV, 2009)

SINOPSE:

Após a aula acabar, Clara, uma menina estudiosa e tímida, conhece Pietro, um rapaz que sabe de tudo. Desde então, parece surgir um romance, porém a única forma de comunicação dos dois é pelo quadro-negro da sala de aula, pois não conseguem se encontrar. Uma revelação pode abalar essa relação ou unir ainda mais essa bela história de amor.

FICHA TÉCNICA:

Direção: João Pedro Seefeldt

Elenco: João Pedro Seefeldt e Rosana Dessotti

Roteiro: João Pedro Seefeldt

Produção: Rosana Dessotti

Edição: João Pedro Seefeldt

3X3 (curta-metragem, ficção, 8 min, Mini DV, 2009)

Sinopse

O vídeo retrata a mudança na vida de um adolescente em 24 horas. A comum “revolta” dos jovens por discussões supostamente banais leva-o a procurar sua real identidade. Inspirado em “Laços de família” , de Clarice Lispector, 3X3 faz com que encontremos a verdadeira essência da cor dentro de cada um de nós.

Ficha técnica:

Direção: Nathalia Franco,

Elenco: Gustavo Foletto e Mara Franco

Roteiro: Nathalia Franco, Camille Foletto, Mariana Flores

Edição: Nathalia Franco, Camille Foletto, Mariana Flores

Produção: Ana Luiza Paraboni e Mariana Flores


3X3 de Nathalia Franco

Questão de Tempo (curta-metragem, experimental, 10 minutos, Mini DV, 2009)

Sinopse:

A história gira em torno de um menino que possui câncer no peito e está com seus dias finais contados. Pelas ruas, ele tenta descobrir o que as pessoas fariam se morressem no dia seguinte. Em formato de uma vídeo-carta de despedida, o rapaz julga cada opinião, conta sua experiência e tenta responder à questão inicial: o que fazer quando se tem pouco tempo de vida?.

FICHA TÉCNICA:

Direção: João Pedro Seefeldt

Elenco: João Pedro Seefeldt

Roteiro: João Pedro Seefeldt

Produção: Ana Luiza Paraboni

Edição: João Pedro Seefeldt


Questão de tempo, de João Pedro Seefeldt

Cursos - outras edições

Alguns dos cursos ministrados entre 2007 e 2009.
Em diferentes contextos e realidades, as tecnologias portáteis e o cinema subjetivo como formas de produzir uma "imersão audiovisual".

2007 - Curso de "Imersão audiovisual" no I Festival Internacional de Artes - Primavera Culturalle

Audiovisual e tecnologias portáteis – experimentação e estética pessoal

Em 2007 o curso ministrado no Festival Primavera Culturalle trabalhou as particularidades dos aparatos caseiros, do fílmico ao eletrônico, para a criação de uma estética da imersão na realidade.

A utilização da tecnologia digital pessoal serviu para a exploração da criatividade e da reflexão sobre a realidade a través de uma restituição de suas aparências.

A discussão sobre a estética de diferentes meios/aparatos/plataformas serviu para mostrar que a experimentação, quando unida a uma reflexão sobre a techné utilizada, acaba por determinar um questionamento dos mecanismos narrativos, dos aspectos expressivos e formula não somente a criação de uma nova estética como também evidencia novas formas de perceber a realidade. A idéia do curso era trabalhar uma estética de imersão na realidade onde o curso estava acontecendo.

O resultado do curso foi o vídeo "A espera". Depois de aulas teóricas, os alunos produziram o vídeo. Foram 8 dias de trabalho intenso e de imersão na realidade da pequena cidade de Silveira Martins.No último dia do festival, a comunidade pode conferir o vídeo, em praça pública, juntamente com outras atrações que foram resultado das oficinas ministradas no festival.

"A espera" (documentário, DV CAM, 8min 40seg, 2007)

Sinopse: A espera de uma “nona” pelo marido que vai trabalhar no parreiral conduz uma reflexão sobre a história do cultivo da uva na região. Paralelamente, o tempo passa na pacata localidade de colonização italiana.

Palavras chave (temáticas do curso):

Documentário expandido; imersão na realidade e aparatos ligeiros;Cinema pessoal; Cinema direto; Cinema Verdade; vanguardas cinematográficas; cinema experimental; cinema de autor; cinema moderno;câmeras portáteis; documentário de criação.

O cinema e o vídeo pessoal

A Historia da vida privada, a partir do Século XX, pode ser contada através de documentos e obras produzidas com ferramentas que trouxeram possibilidades de uma arte nova, a através das “máquinas das imagens móveis”.

A fotografia e as máquinas que registravam as imagens em movimento possibilitaram que o homem registrasse a realidade pessoal e transformasse momentos da vida privada em fragmentos materiais da própria memória e em arte.

Deste contato entre máquinas de imagens móvies portáteis e indivíduos comuns, surge uma praxis do cinema e do audiovisual em que é desenvolvido um intercâmbio de estéticas e repertórios entre o cinema e video amateur, o familiar e o experimental. Surgem estudos e definições de uma prática: cinema experimental pessoal[1], cinema subjetivo[2], entre outros.

Somado a isso, aos poucos vai sendo fortalecida uma intersecção com a produção documental, já que muitos destes filmes e vídeos são construídos com registros pessoais de experiências reais de seus realizadores o que, atualmente, é evidenciado como um recurso narrativo em importantes obras documentais como Um passaporte húngaro (2001), de Sandra Kogut.

Na formação desse território do cinema e do vídeo pessoal há uma tendência `a promoção dos grandes temas da subjetividade, incluindo ênfase temáticas mnemônicas, da vida privada e da intimidade.



[1] A principal referencia neste sentido é Allard, Laurence. (1995). Une reencontre entre film de famille et film experimental: le cinéma personnel. In Odin, Roger (Org.). Le film de famille. Usage privé. Usage public. Paris: Klincksieck.

[2] En Lins, Consuelo. (2004). O Documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Lins, Consuelo y MESQUITA, Cláudia. (2008). Filmar o real: sobre o documentário brasileiro contemporáneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Sobre Carolina Berger – idealizadora e ministrante do projeto “Lapidando o olhar”

Carolina Berger é artista audiovisual, graduada em jornalismo pela UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e mestre em Documentário Cinematográfico na Universidad del Cine, em Buenos Aires, onde realizou os vídeo documentários Álbum (DVCAM e material de arquivo em Super-8, 42min,2005), Clínica (DVCAM, 9’35, 2010), Pero mejores,no... (DVCAM, 16min, 2006) e o projeto de curta-metragem auto-referencial Dias no tempo (2010,37min, DV). Desde 2000 trabalha com produção audiovisual, especializando-se direção, roteiro de documentário, e em difusão de conhecimento sobre documentário, cinema e vídeo experimentais. Também atua como diretora e roteirista de vídeo clipes. Em seus trabalhos como diretora e roteirista prioriza a busca de novas linguagens e parâmetros estéticos possíveis com estruturas de produção simplificadas.

Dirigiu o documentário Herança (2007, 25min, DVCAM ), curta-metragem cujo argumento foi premiado no Concurso NUFF Global Change (Nordic Youth Film Festival), prêmio internacional para financiamento de projetos sobre mudanças climáticas. Herança foi premiado como Melhor Vídeo Documentário Independente no Gramado Cine Vídeo, e Melhor Documentário Nacional no Santa Maria Vídeo e Cinema, entre outros prêmios. Herança foi selecionado para fazer parte de vários festivais internacionais, tendo sido exibido em países como Espanha, República Tcheca e Indonésia.

Em 2008 vence, no Rio Grande do Sul, o concurso DOCTV IV com o projeto Minas do Camaqua. O projeto resulta no documentário Paragem do tempo (Betacam digital, cor, 52 minutos), produzido para a série DOCTV.

Em 2010 lança autoficção ensaística Dias no tempo, projeto orientado pelo pesquisador e curador argentino reconhecido internacionalmente, Jorge La Ferla, e produzido com financiamento da Universidad del Cine (AR) e Lei de Incentivo à cultura de Santa Maria.

Foi assistente de direção de documentários e atuou como continuísta em curta-metragens e no longa-metragem, Manhã Transfirgurada (2008).

Foi professora auxiliar de disciplinas de produção, no Curso Superior de Tecnologia em Produção Audiovisual, na FAMECOS – PUC –RS. Ministrou oficinas de direção, roteiro, cinema pessoal experimental e documentário para várias instituições e festivais no Sul do país. Recentemente, ministrou Oficina de Formação Audiovisual (roteiro e direção) para o Pontão FOCU de fomento cultural, em 7 cidades do Sul do Brasil. Para o mesmo projeto, ministrou oficinas de documentário, em 6 cidades. Atualmente é coordenadora do Núcleo de Audiovisual do Macondo Coletivo, desenvolvendo pesquisas, oficinas, obras de artes integradas (peça teatral “Quando fecho os olhos”), vídeo clipes (Proyecto Gómez, “No doy más”) e curadoria de mostras (Mostra Internacional de Hipnose Audiovisual).

Carolina Berger - Textos, vídeos e fotografias: www.myspace.com/svilova